Romanos 11:36 (NVI)
É
preciso distinguir entre música e louvor. Por mais que em ambos os casos os
pressupostos e parte da teoria possam ser congruentes, ruge a necessidade de distingui-los.
Da mesma maneira que se distingue entre música e som, ou da distinção entre música
e ruído. Louvor é diferente de música. É imperativo que analise a partir do
pressuposto de que somos parte da Igreja, e neste contexto as imagens agregam,
sintomaticamente, perspectivas antagônicas às figuras seculares. Por mais que
numa foto ambos possam ser mui semelhantes,
na essência são abruptamente opostos. A diferença parte do que somos,
pois na Igreja, aquele que quiser ganhar, terá que perder (cf. Mt. 10:39); quem tem duas capanga, terá que dar uma (cf. Lc. 3:11); quem é forte, terá que
andar com fracos (cf. Rm. 15:1); quem
quiser ser o maior, terá que ser o menor (cf.
Mt. 23:11), e assim sucessivamente. Então, se a matriz do Reino é inversa, nada
mais sensato que admitir que fazer música não é fazer louvor (e vice versa). Esta
inversão de conceitos e fundamentos se dá, única e exclusivamente, pelo fato de
que no Reino o Rei é um Carpinteiro, e Este se despiu de Sua glória, mostrando
que aqui, no Reino, os valores e significados são outros.
Fazer
música e fazer louvor tem lá suas similitudes, porem também tem suas inúmeras
limitações. No louvor, esperasse que seja congregacional, isto é, que não se
assista alguém cantar/tocar, mas que todos os presentes cantem juntos.
Diferente de uma apresentação musical, em que se espera o silêncio da planteia para
admirar a performance do músico/cantor. Por estar razão, na Igreja, é preciso
cantar músicas que as pessoas saibam cantar, o tom da música tem que ser
acessível à maioria e os arranjos tem que favorecer a integração dos presentes.
Na igreja, assim como numa apresentação musical, é preciso ter técnica e
conhecimento teórico-musical. Contudo, na igreja o mais importante não é a volumosidade
técnica, mais sim fazer o melhor, dentro do conhecimento técnico que se tem com
fins a facilitar o processo exaltação de Deus, por meio da música
congregacional. Qualquer atitude que desconecte alguns do todo converge em
pavonice e exibicionismo – distintivos inapropriados a simplicidade do Reino.
Numa
apresentação musical, o artista já sobe ao palco com noção integral do inicio,
desenvolvimento e fim da canção. Neste caso já se sabe que parte vão se repetir
e quantas vezes, segue-se um padrão pré-estabelecido para melhor qualidade
técnica da apresentação. Entretanto, na Igreja, as canções não estão postas de
forma pré-estabelecida, pois as repetições de estrofes, entre outros detalhes musicais,
depende da congregação e do intuito da canção no contexto da comunidade em que
se está cantando. Na Igreja as músicas do louvor precisam ter vida coletiva. Ou
seja, no louvor é preciso ter uma certa flexibilidade e adaptabilidade, pois
afinal, o louvor é congregacional. Outro detalhe é a postura do pessoal que
está com os microfones, é preciso ter sensatez para não entrar numa pavocine
desnecessária com gesticulações e vestimentas que favorecem a performance de
alguns ao invés de coletivizar as canções. Estar com o microfone não é motivo
de destaque, apenas serve para amplificação sonora e norte da música junto à
comunidade. Então, o propósito do microfone é ajudar, não destacar.
No
cenário eclesiástico, os ditos “ministros de louvor” (terminologia que
precisaria de uma reconfiguração mais adequada à coletividade) confundem os papéis,
pois não poucas vezes “esquecem” de cantar e aventuram-se numa pregação inter musical que estes chamam
de ministração (porem mais se assemelham a pagação
de sapo grupal ou animação de plateia – em ambas as situações,
desnecessárias ao que se propõem a Igreja). Neste quesito, o músico secular,
numa apresentação musical, é mais adequado, pois geralmente, músicos tocam
música (e cantores, cantam) – o que deveria também ser na igreja: que o momento
de louvor, seja louvor. É necessário ainda que se critique a capacidade de
discurso bíblico-pastoral destes ditos “ministros de louvor”, pois não é
exceção ouvir toda sorte de heresia e aberrações igrejeiras oriundos da boca
destes “levitas” (designação inapropriada aos músicos de igrejas). Deixar as
pessoas em pé ouvindo um papagaio gospel taguarelar
é minar as bases do louvor congregacional.
Na
igreja, portanto, o que mais importa, para participar do louvor, não é saber
tocar/cantar, pois não se está numa audição. O mais importante é que sejamos
cristãos. A grande maioria dos que congregam numa Igreja não tem lá muito
conhecimento técnico-musical, sendo assim não estão tão preocupados se o
violinista conseguiu fazer aquela nota dificílima, ou se o cantor conseguiu
fazer aquela nota com exatidão, ou se o tecladista esqueceu uma nota numa
momento qualquer, ou coisa do gênero. Na igreja não estamos para avaliar
cantores e músicos, estamos para, juntos, adorar o Carpinteiro por meio da
música (é válido destacar que o termo adoração não é próprio da música,
portanto, pode-se adorar a Deus, inclusive e preferencialmente, sem música).
Obviamente, que este discurso não abre brechas para uma completa anarquia
musical e desordem técnica, não sejamos extremistas infantis. O que se propõem aqui
é que não se esqueça que estamos numa igreja, não num teatro; que estamos num
púlpito, não num palco; que estamos entre irmãos, não entre fãs, que estamos
servindo a Deus, não os homens; que estamos louvando coletivamente; não
cantando para uma coletividade; enfim, que estamos fazendo louvor, não música.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 28 de Novembro de 2015
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