Êxodo 3:7 (NVI)
Há uma frase que
comumente é atribuída a William Shakespeare, em que afirma: “todo mundo é capaz
de dominar a dor, exceto quem a sente”. Sendo assim, há dores que insistem em
nos perseguir por anos a fio, outras tantas parece transporem a linha temporal
da vida. Discursar acerca da dor do outro não faz sentido, pois não é sentido
(trocadilho linguístico proposital). Dor, tristeza, angustia, decepção, frustração, silêncio, sofrimento, e outros desafortunados distintivos assolam a
humanidade desde os primórdios. Estranhamente, a igreja fez destas desventuras
algo demoníaco, o que só favorece a desilusão e a desesperança daqueles que tem
suas histórias manchadas por vazios. Não precisamos ter respostas para tudo,
nem carece de transferir responsabilidades aos seres espirituais, tentando dar
explicações simplistas a cousas complexas, tipo clichês igrejeiros. O que
precisamos é aprender a escutar o agir silencioso do Carpinteiro.
“Todo mundo é
capaz de dominar a dor, exceto quem a sente”, disto o sabe mui bem a mãe que
sofreu um aborto espontâneo, perdendo seu filho(a) ainda informe no ventre.
Esta, agora, entende que para amar não precisa conviver muito tempo com, não há necessidade de conhecer
muito sobre, não carece de grandes
momentos para, esta desafortunada,
enfim, descobre que amar é um dom que aflige os que são tomados de tamanha
virtude. Esta foi mãe, mesmo nunca tendo visto seu filho(a), e ser mãe não se
conjuga com o estado passado, ou seja, é impossível ser ex-mãe. E está é uma dor
que torna-se indivisível consigo mesma. A única, e suficiente alegria, que pode
sobrepor tamanho vazio é a certeza axiomática de que pelos breves dias de
existência, ainda no ventre materno, este pequeno ser, desfrutou da maior
grandeza dada aos mortais, ser desenhado de forma admirável pelo o Autor da
Vida, e saber então que: “os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias
determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles
existir” – Sl.
139:16 (NVI).
“Todo mundo é
capaz de dominar a dor, exceto quem a sente”, disto o sabe mui bem aqueles pais
que tem que enterrar seus filhos. A lógica da vida é que filhos enterrem pais,
não o contrário. Para estes a dor da perda soa como a interrupção de uma
jornada com infindáveis possibilidades, que agora não passam de tristes
lembranças do que se perdeu. Tristeza que assola os rincões mais distantes dentro
do coração. Para estes pais, órfãos de filhos, a morte não é mais um tragédia
absurda, mas sim um encontro desejável,
crendo que além dos limiares da vida poderão reencontrar com a prole que se foi
e, então, novamente abraçar, acariciar, conversar, debruçar, afagar,
completando-os novamente em suas histórias eternas. O consolo para os tais
parte do pressuposto que Deus (Pai) sabe o que é amar um Filho (Jesus), e
então: “que o próprio Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou e nos
deu eterna consolação e boa esperança pela graça, dê ânimo aos seus corações e
os fortaleça...” - 2 Ts. 2:16-17 (NVI).
“Todo mundo é
capaz de dominar a dor, exceto quem a sente”, disto o sabe mui bem aqueles que
foram assombrados pelo desaparecimento de um(a) filho(a). Diferente do caso
exposto no parágrafo anterior, agora estes convivem com a perturbadora dúvida
da vida ou morte. Para estes as noites nunca mais significarão descanso, jamais
serão de sonhos, não mais será possível sorrir como outrora. O desaparecimento de
um ente querido não encerra a história, apenas a torna suspensa. Sendo assim a
história subsequente não mais tem continuidade, tudo perde o valor. Nada mais
tem significado real. A dor de não saber o que aconteceu (ou o que está
acontecendo) é extremamente sufocante. Esta é a dor da impotência do que somos.
Não longe dai, deste lugar de desconsolo pleno, ouve-se o sussurro do
Carpinteiro que insiste: “venham a mim, todos os que estão cansados e
sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. (...) vocês encontrarão descanso
para as suas almas” – Mt. 11:28-29 (NVI).
“Todo mundo é
capaz de dominar a dor, exceto quem a sente”, disto nós, agora, sabemos muito bem, pois sentimos dor.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
_______________________________
Artigo escrito em: 05 de Agosto de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário