Gálatas 1:6-7 (NVI)
A teologia em
solos tupiniquins nunca foi algo de grande prestígio nos púlpitos evangelicais,
especialmente após a ascensão dos revelamentos
e descoberta dos “dons especiais”. Dá-nos a impressão que estudar teologia é
algo arcaico, ultrapassado e desconexo com a religiosidade exigida entre os
brasilianos modernos. E, não poucas vezes a teologia fora relegada a apenas uns
poucos eruditos eclesiais que ocupam cargos de liderança. O resultado imediato
foi uma elitização da teologia. Sendo assim, o que restou para as multidões de
crentes brasileiros fora um distanciamento gradativo e irreversível. Estamos,
então, assistindo o suicídio da teologia – digo suicídio e não morte, pois
somos co-responsáveis pelo estrangular da teologia no Brasil.
Há várias crises
que culminaram no espetáculo do suicídio da teologia, a saber: A venda de
diplomas. Não era comum ouvirmos falar de venda de diplomas de teologia, porém
a religião evangélica mudou, e a grande maioria das igrejas exige dos
aspirantes que se tenha pelo menos o básico em teologia (apesar de estas
próprias igrejas não gostarem do estudo da teologia). Por conseguinte, a
igreja, de forma desordenada e imediatista, avisa os candidatos ao episcopado
poucos meses antes da ordenação. O que força, inevitavelmente, os pretensos
candidatos a terem que negociar um curso de teologia com duração de não mais
que semanas, mas com um diploma “equivalente” a anos de estudos. E, isto é uma
forma legalizada, aceita e velada de venda
de diplomas de teologia.
Outra crise que
germinou entre os campos da teologia foi o fato de que ser teólogo dá direito
de prestar concurso para capelão da Aeronáutica, Exército ou Marinha (entre outros)
com salários de aproximadamente 6.000 reais (seis mil reais). Nada teríamos a
depor contra tal fato senão pela notória percepção de que nas salas de aula dos
Seminários muitos não querem aprender teologia, o que querem é o diploma para
prestar o concurso de capelão. Para estes, teologia é apenas um obstáculo no
percurso rumo à estabilidade financeira. Estes escolhem a teologia por ser um
curso com uma grande flexibilidade de
notas e gigantesca tolerância aos
trabalhos acadêmicos, ou seja, mesmo sendo um péssimo aluno provavelmente
conseguirá o diploma.
Outra crise sutil
que borbulha na teologia hodierna é a substituição dos Seminários por cursos
ministeriais na igreja local. Até por volta da década de 1970 era comum
encontrar as salas de Seminários com mais de 40 alunos, gente de diversas
denominações que compartilhavam aspirações no serviço ao Reino. Entretanto, com
o advento das inúmeras igrejas independentes os pastores ficaram com medo de
perder membros e, então, tiveram a terrível idéia de criar seus próprios
Seminários. Que na verdade não eram Seminários, eram cursos ministeriais com a
intenção clara de formatar lideres segundo seus próprios corações. Desta forma
inúmeras pessoas pensam que estão estudando teologia, mas na verdade estão apenas
sendo adestrados religiosamente.
O currículo do
curso de teologia é outra crise que merece destaque. A estrutura básica de um
curso de teologia perpassa por: teologias sistemáticas (doutrina do pecado,
homem, anjos, Espírito Santo, entre outras), análises dos livros da Bíblia
(Antigo e Novo Testamentos) e estudo de ciências paralelas (psicologia,
sociologia, português, entre outras). Posto desta forma era inevitável que o
curso tivesse algo entorno de três anos de duração. Contudo, alguns Seminários
espalhados pelo Brasil resolveram “revolucionar” (estragar), e reconfiguraram
as estruturas curriculares. Numa pesquisa informal feita pela internet aos
diversos Seminários percebe-se que agora o curso de teologia preocupa-se com outros
saberes, como: Leis de Trânsito, História do Direito, Comunicação e Marketing,
Batalha Espiritual, Vida do Líder, Obediência e Autoridade (por questão de
ética não citarei os Seminários com esta estrutura curricular, porém sugiro ao
leitor pesquisar na internet e comprovar tal fato – inclusive preste atenção na
carga horária das disciplinas).
A lista de crises
na teologia brasileira beira ao interminável, portanto, com fins a continuar
nesta saga de repensar a teologia tupiniquim sugiro a leitura de outros artigos
disponíveis no blog (seabravinicius.blogspot.com.br), tais como: “Teologia é do
capeta (!?!)”, “A igreja anti-teologia” e “Entendendo o analfabetismo bíblico
do Brasil”. Finalizo na esperança de que se a desmoralização dos cursos de
teologia fora um ato intencional “nosso” (igreja brasileira), então, igualmente
podemos lutar para resgatar uma teologia útil, bíblica e coerente.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 21 de Julho de 2014