“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas”.
Atos 17:24-25 (NVI)
Deus extrapola os
arraiais evangelicais. Não existe
nenhum lugar do mundo que Ele não possa atingir, não há lugar distante demais
que não possa se manifestar e não há limites que Ele não possa transpor, pois
como afirma CHAMPLIN: “(...) Deus exerce autoridade absoluta, amoldando todas
coisas e todos os acontecimentos à semelhança do que o oleiro faz com o mesmo
monte de barro amassado”[1].
Compreender a graça comum é apreender
sobre um Deus que age dentro e fora da igreja.
A boa notícia é
que o Oleiro não se limita aos Seus
para agir, pois como Ele é o Criador de todas as coisas seria no mínimo
estranho reduzir o Seu operar apenas às igrejas. O fato de admitir que Deus não
se restrinja a igreja para agir não é uma tendência ao ecumenismo[2] ou
sincretismo[3],
mas sim um vislumbre da maravilhosa (e assombrosa) graça comum. A graça comum
admiti que o Criador fez todas as coisas que existem e que não há limites para
a ação dEle. Entretanto, é válido, previamente ressaltar que, este tipo de graça não contempla a salvação,
mas sim a grandiosidade da manifestação de Deus.
A proposta da graça comum reforça o pressuposto da
soberania de Deus, um dos mais importantes princípios norteadores da vida
cristã. Sendo Deus, completo em si mesmo, decidiu fazer da criação Seu palanque
particular; fez do universo uma demonstração da grandiosidade do Seu ser; e fez
do ser humano a Sua obra prima. Como endossa GRUDEM: “(...) devemos afirmar que
a criação do universo foi um ato totalmente voluntário da parte de Deus. Não
foi um ato necessário, mas algo que Deus decidiu fazer (...) Deus desejou criar
o universo para demonstrar a Sua excelência”[4].
O ponto importante
acerca da graça comum é entender que
por mais que a Igreja exista para ser a representante de Deus na Terra, não
quer dizer que as igrejas tenham o direito de limitar da ação dEle às igrejas,
como que se Deus fosse uma propriedade eclesiástica gospel. Entender o compasso da graça
comum ajudará os cristãos a viver um Cristianismo que não supervaloriza as
coletivas manifestações eclesiais como únicas formas de manifestação de Deus. Deus
se dá a conhecer nas mais diversas formas e nas mais inesperadas maneiras.
O século XXI tem
desnudado algumas igrejas brasileiras antagônicas ao princípio da graça comum, pois são megalomaníacas, apaixonadas por templos
e com discursos de aprisionamento de Deus. Isto é notório quando na oração de
abertura do culto dominical se ouve algo do tipo: “Senhor, na Tua presença...”,
ou expressões como: “estamos aqui na Casa de Deus”. Estes confundem religião
judaica com religião cristã. Ambos os movimentos religiosos, mesmo tendo as
mesmas raízes, são diferentes doutrinariamente e não poucas vezes antagônicas
em suas práticas.
Na perspectiva do
judaísmo bíblico Deus habitava num lugar restrito, no Templo, mais nomeadamente
no Santo dos Santos, e mais especificamente dentro da Arca da Aliança. Contudo,
quando Cristo morreu na cruz o véu que separava Ele e as pessoas foi rasgado,
fornecendo livre acesso a todos. Isto é reforçado pelas palavras de Paulo: “O
Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não
habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de
homens...” (cf. At. 17:24-25 - NVI).
Contemporaneamente, o compositor João Alexandre endossa tal premissa: “...Deus não habita mais em templos feitos
por mãos de Homens; Deus não será jamais acorrentado às paredes de uma
Religião; (...) Deus não será jamais enclausurado na escuridão de quem ainda
tem um coração de pedra...”[5].
A crença de que
Deus reside/habita exclusivamente
dentro da igreja é falha quando confrontada pelo princípio da onipresença dEle,
porém perfeitamente aceitável sob a ótica da graça comum. O atributo
incomunicável[6]
de Deus, denominado de onipresença, assegura que Deus não é em forma corpórea,
portanto, Ele está presenta em todos os lugares simultaneamente e
indiscriminadamente. O que muda é a sua forma
de presença, ora confortando os corações, ora produzindo arrependimento, entre
outras formas. Assim, Deus está
presente dentro da igreja da mesma maneira que Ele O está do outro lado da rua
da igreja.
No Judaísmo
bíblico as pessoas aguardavam ansiosamente os dias do ano para peregrinarem[7] rumo a
Jerusalém e ali se encontrarem com Deus, por isto a euforia do salmista quando
exclamou: “Alegrei-me com os que me disseram: Vamos à casa do Senhor!” (cf. Sl. 122:1 - NVI). Contudo, após o
advento do Cristianismo é no mínimo heresia admitir que Deus habite dentro da
igreja, pois como defende GRUDEM: “...Deus é ilimitado ou infinito com respeito
ao tempo, e também é ilimitado com respeito ao espaço (...) Deus não tem
tamanho nem dimensões espaciais e está presente em cada ponto do espaço com
todo o seu ser; ele, porém, age de modos diversos em lugares diferentes”[8] – isto é
a graça comum do soberano Deus que
indivisivelmente é onipresente.
A confusão religiosa[9]
entre Judaísmo e Cristianismo fez com que os líderes eclesiásticos,
impulsionados pelo pressuposto errôneo de que a igreja local é a Casa de Deus,
apaixonassem-se por construção de mega templos. Estes que tentam aprisionar Deus à beleza e à
suntuosidade dos templos o fazem sob o argumento de que Ele merece o melhor – como que se o Senhor do
Universo se impressionasse/encantasse com paredes, arquitetura, tecnologia e
conforto. Esta neurose megalomaníaca
por templos revela a fragilidade da vida cristã destes evangélicos, pois ainda insistem em materializar a
fé ao invés de vivencia-la e intentam agradar a Deus com tijolos ao invés serem pedras vivas (cf. 1 Pe. 2:5).
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
___________________________________Artigo escrito em: 28 de Julho de 2013
[1] Russel N. CHAMPLIN, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, p. 313.
[2] O termo ecumenismo refere-se ao apoio coletivo entre as religiões com fins sociais, não há interferência ou união de aspectos doutrinários.
[3] O termo sincretismo refere-se à união doutrinaria entre diversas religiões congêneres ou paradoxais.
[4] Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 206
[5] Esta estrofe foi retirada da música Coração de Pedra escrita e cantada por João Alexandre (álbum: Voz, Violão e Algo Mais, 2002, Estúdio Voz e Violão).
[6] O termo teológico descrito como atributos incomunicáveis se refere as características especificas de Deus que não são partilhas com a humanidade (i.e. com criação), por exemplo: imutabilidade, onipresença, onisciência, onipotência e etc.
[7] Os salmos de número 120 ao 134 são conhecidos como “os Cânticos de Romagem”, expressão esta utilizada para referenciar aos salmos que eram na verdade cânticos de peregrinação enquanto o povo caminha rumo ao Templo em Jerusalém.
[8] Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 121.
[9] Esta confusão religiosa é fruto da ausência de estudo teológico e bíblico, algo muito comum no contexto brasileiro, pois ainda há muitos que julgam o estudo como algo demoníaco.
[2] O termo ecumenismo refere-se ao apoio coletivo entre as religiões com fins sociais, não há interferência ou união de aspectos doutrinários.
[3] O termo sincretismo refere-se à união doutrinaria entre diversas religiões congêneres ou paradoxais.
[4] Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 206
[5] Esta estrofe foi retirada da música Coração de Pedra escrita e cantada por João Alexandre (álbum: Voz, Violão e Algo Mais, 2002, Estúdio Voz e Violão).
[6] O termo teológico descrito como atributos incomunicáveis se refere as características especificas de Deus que não são partilhas com a humanidade (i.e. com criação), por exemplo: imutabilidade, onipresença, onisciência, onipotência e etc.
[7] Os salmos de número 120 ao 134 são conhecidos como “os Cânticos de Romagem”, expressão esta utilizada para referenciar aos salmos que eram na verdade cânticos de peregrinação enquanto o povo caminha rumo ao Templo em Jerusalém.
[8] Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 121.
[9] Esta confusão religiosa é fruto da ausência de estudo teológico e bíblico, algo muito comum no contexto brasileiro, pois ainda há muitos que julgam o estudo como algo demoníaco.