terça-feira, 5 de novembro de 2013

Um menino chamado Edir Macedo


“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição...”
2 Pedro 2:1 (NVI)

Nos últimos tempos poucas pessoas têm conseguido ocupar tanto espaço na mídia como o excêntrico “Bispo” Edir Macedo, principalmente no que concerne ao lado empresarial encabeçado pela Rede Record que constantemente se encontra numa concorrência com a principal rival, Rede Globo. Nesta luta para saber quem mandará no Brasil nas próximas décadas vale tudo, inclusive manipular as massas evangélicas para apoiar manifestos tendenciosos e meramente mercantilistas. Contudo, o propósito do presente artigo não é apimentar este conflito, mas sim fazer uma breve reflexão sobre o lado religioso deste homem (Edir Macedo) que não poucas vezes tem agido de forma infantil. A intenção é refletir (pensar) sobre as premissas teológicas e religiosas que o líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) tem propagado e como que estas são prejudiciais a fé cristã.

No dia 27 de Abril de 2009, Edir Macedo registrou em seu blog as seguintes alíneas: “Será que os que me acusam de aproveitador, vigarista e ladrão não gostariam de estar em meu lugar???… Será que eles me acusam porque são honestos, íntegros, verdadeiros e santos? E se a santidade deles é tão acentuada assim, por que não são tão abençoados por Deus como gostariam? Seria Deus injusto para com eles? Que Deus é Esse que abençoa um “bandido” e amaldiçoa os certinhos? Ou será que mesmo na integridade eles não conseguem sucesso porque são incompetentes? E não seria tamanha incompetência a verdadeira razão da inveja? (...)” – cf. www.bispomacedo.com.br/blog , acessado em 16 de Maio de 2009. Tristemente, Edir Macedo não está totalmente errado, o que não torna suas idéias aceitáveis. É indiscutível que inúmeros líderes eclesiásticos fariam qualquer coisa para ter o suposto “sucesso” e “crescimento” que a IURD obteve nas últimas décadas, a prova disto é que estão imitando os heréticos programas da IURD em diversas igrejas.

A perícope acima demonstra que o Sr. Edir Macedo se esqueceu do texto do livro de Jó que exemplifica que coisas ruins acontecem com pessoas boas e que a recíproca também é verdadeira, ou seja, coisas boas acontecem com gente ruim. Este estalo teológico apresentado por Jó é o que equilibra o radicalismo defendido por alguns baseando exclusivamente no texto de Deuteronômio, capítulo 28, onde apresenta a súmula: sejam pessoas boas e Deus abençoará; sejam pessoas más e Deus amaldiçoará. Sendo assim, Macedo se esquece que o que se está em “xeque” nesta vida não é o sucesso adquirido perante os homens, nem o nebuloso fracasso, mas sim a fidelidade com que se é mordomo de Deus. Portanto, santidade não é pré-requisito para adquirir bens materiais, integridade não garante riqueza, e ao que parece a lógica do mercado capitalista é exatamente o contrário.

Há vários textos bíblicos que estão em acordo ao dogmatizar que prosperidade, sucesso, felicidade não são necessariamente atributos daqueles que são fieis cristãos. Para tanto vale observar o texto de Salmos 94:3: “até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios saltarão de prazer?”. Tal texto está próximo da indagação registrada em Juízes 12:1: “...por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem aleivosamente?”. Portanto, ao contrário do que Macedo intenta ensinar, bênçãos nesta terra não pode ser o critério exato para discernir se alguém está com Deus ou não. Contudo, não se pode radicalizar afirmando que Deus é contra a prosperidade. Torna-se, então, razoável e é no mínimo sensato arrazoar que, toda e qualquer riqueza quando não é utilizada para a glória de Deus deve ser questionável.

Outro caminho demasiadamente perigoso que o Sr. Edir Macedo induz a cristandade atual a trilhar em seu blog é o pressuposto de que as pessoas ao olhar para ele sentem inveja. Os líderes evangélicos que comungam deste sentimento devem repensar seriamente a fé, pois o referencial de pastor deveria ser não o sucesso, mas sim o caráter, porém tal fato é omitido em seu blog, focando que a razão da inveja dos outros por ele é essencialmente o “sucesso” da IURD. Ambos erram, pois o que a igreja precisa atualmente é de pastores de caráter, não de pastores-empresários que se orgulham do sucesso como se este fosse mérito pessoal. Para tanto, novamente o texto bíblico, especificamente o de Salmos 73:2-3, ajuda o leitor a não ceder para o “canto da sereia”, pois argumenta: “quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos. Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios”.

Ao ler a perícope destacada do blog do Edir Macedo e após fazer as devidas considerações anteriormente relatadas, uma cena da infância vem à mente. Se parece muito com uma criança mimada que conseguiu um carrinho importado de controle remoto sem fio e que agora frente aos “amigos” do bairro menos favorecidos fica fazendo “figuinha” e esnobando os outros se achando o melhor entre todos. Contudo, depois que se cresce vê que aquele carrinho não tem importância nenhum. Se for um carrinho feito à mão com garrafas pet ou importado sem fio, isto não tem o menor valor quando se adquire um pouco de maturidade. O que importava realmente era estar junto um dos outros. Parafraseando, quando na Igreja se deixa de ser criança o que importa não é mais a beleza dos templos, nem o sucesso aclamado pelas multidões e muito menos a prosperidade dos outros, tudo isto são paixões infantis.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 15 de Junho de 2009

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