“E também houve entre o povo falsos
profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão
encobertamente heresias de perdição...”
2 Pedro 2:1 (NVI)
Nos últimos tempos
poucas pessoas têm conseguido ocupar tanto espaço na mídia como o excêntrico
“Bispo” Edir Macedo, principalmente no que concerne ao lado empresarial
encabeçado pela Rede Record que constantemente se encontra numa concorrência
com a principal rival, Rede Globo. Nesta luta para saber quem mandará no Brasil
nas próximas décadas vale tudo, inclusive manipular as massas evangélicas para
apoiar manifestos tendenciosos e meramente mercantilistas. Contudo, o propósito
do presente artigo não é apimentar este conflito, mas sim fazer uma breve
reflexão sobre o lado religioso deste homem (Edir Macedo) que não poucas vezes
tem agido de forma infantil. A intenção é refletir (pensar) sobre as premissas
teológicas e religiosas que o líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)
tem propagado e como que estas são prejudiciais a fé cristã.
No dia 27 de Abril de
2009, Edir Macedo registrou em seu blog as seguintes alíneas: “Será que os que
me acusam de aproveitador, vigarista e ladrão não gostariam de estar em meu
lugar???… Será que eles me acusam porque são honestos, íntegros, verdadeiros e
santos? E se a santidade deles é tão acentuada assim, por que não são tão
abençoados por Deus como gostariam? Seria Deus injusto para com eles? Que Deus
é Esse que abençoa um “bandido” e amaldiçoa os certinhos? Ou será que mesmo na
integridade eles não conseguem sucesso porque são incompetentes? E não seria
tamanha incompetência a verdadeira razão da inveja? (...)” – cf. www.bispomacedo.com.br/blog ,
acessado em 16 de Maio de 2009. Tristemente, Edir Macedo não está totalmente
errado, o que não torna suas idéias aceitáveis. É indiscutível que inúmeros líderes
eclesiásticos fariam qualquer coisa para ter o suposto “sucesso” e “crescimento”
que a IURD obteve nas últimas décadas, a prova disto é que estão imitando os
heréticos programas da IURD em diversas igrejas.
A perícope acima
demonstra que o Sr. Edir Macedo se esqueceu do texto do livro de Jó que
exemplifica que coisas ruins acontecem com pessoas boas e que a recíproca
também é verdadeira, ou seja, coisas boas acontecem com gente ruim. Este estalo
teológico apresentado por Jó é o que equilibra o radicalismo defendido por
alguns baseando exclusivamente no texto de Deuteronômio, capítulo 28, onde
apresenta a súmula: sejam pessoas boas e Deus abençoará; sejam pessoas más e
Deus amaldiçoará. Sendo assim, Macedo se esquece que o que se está em “xeque” nesta
vida não é o sucesso adquirido perante os homens, nem o nebuloso fracasso, mas
sim a fidelidade com que se é mordomo de Deus. Portanto, santidade não é
pré-requisito para adquirir bens materiais, integridade não garante riqueza, e ao
que parece a lógica do mercado capitalista é exatamente o contrário.
Há vários textos
bíblicos que estão em acordo ao dogmatizar que prosperidade, sucesso, felicidade
não são necessariamente atributos daqueles que são fieis cristãos. Para tanto
vale observar o texto de Salmos 94:3: “até quando os ímpios, Senhor, até quando
os ímpios saltarão de prazer?”. Tal texto está próximo da indagação registrada
em Juízes 12:1: “...por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos
os que procedem aleivosamente?”. Portanto, ao contrário do que Macedo intenta
ensinar, bênçãos nesta terra não pode ser o critério exato para discernir se
alguém está com Deus ou não. Contudo, não se pode radicalizar afirmando que
Deus é contra a prosperidade. Torna-se, então, razoável e é no mínimo sensato
arrazoar que, toda e qualquer riqueza quando não é utilizada para a glória de
Deus deve ser questionável.
Outro caminho
demasiadamente perigoso que o Sr. Edir Macedo induz a cristandade atual a
trilhar em seu blog é o pressuposto de que as pessoas ao olhar para ele sentem
inveja. Os líderes evangélicos que comungam deste sentimento devem repensar
seriamente a fé, pois o referencial de pastor deveria ser não o sucesso, mas
sim o caráter, porém tal fato é omitido em seu blog, focando que a razão da
inveja dos outros por ele é essencialmente o “sucesso” da IURD. Ambos erram,
pois o que a igreja precisa atualmente é de pastores de caráter, não de
pastores-empresários que se orgulham do sucesso como se este fosse mérito
pessoal. Para tanto, novamente o texto bíblico, especificamente o de Salmos
73:2-3, ajuda o leitor a não ceder para o “canto da sereia”, pois argumenta: “quanto
a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem
os meus passos. Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos
ímpios”.
Ao
ler a perícope destacada do blog do Edir Macedo e após fazer as devidas considerações
anteriormente relatadas, uma cena da infância vem à mente. Se parece muito com
uma criança mimada que conseguiu um carrinho importado de controle remoto sem fio e que agora frente aos
“amigos” do bairro menos favorecidos fica fazendo “figuinha” e esnobando os
outros se achando o melhor entre todos. Contudo, depois que se cresce vê que
aquele carrinho não tem importância nenhum. Se for um carrinho feito à mão com
garrafas pet ou importado sem fio,
isto não tem o menor valor quando se adquire um pouco de maturidade. O que
importava realmente era estar junto um dos outros. Parafraseando, quando na
Igreja se deixa de ser criança o que importa não é mais a beleza dos templos,
nem o sucesso aclamado pelas multidões e muito menos a prosperidade dos outros,
tudo isto são paixões infantis.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 15 de Junho de 2009
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