sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Pregadores nas mãos de um Deus irado

em todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? ’
Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! ’ "

Mateus 7:2

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’”. 
Mateus 7:21-23 (NVI) 

Há alguns séculos atrás Deus levantou um homem que transformou a perspectiva teológica conhecida até então, chamava-se: Jonathan Edwards (1703-1758). Em 8 de Julho de 1741 em Enfield, Connecticut (Estados Unidos), ele proferiu o famoso sermão: “pecadores nas mãos de um Deus irado”, causando um impacto inesquecível naqueles que ouviram. Atualmente este sermão tem sido publicado em várias línguas, trazendo proveito espiritual a milhares de pessoas em toda parte do mundo.

Do século XVIII até a era presente vários oradores parafrasearam o sermão de Edwards aplicando-o nas mais diversas situações eclesiásticas e teológicas, a exemplo temos: “Deus nas mãos de pecadores irados”, “Pecadores nas mãos de um Deus muito irado” e etc. Contudo, a vivencia na sociedade pós-moderna oriunda dos caprichos do século XXI nos leva a um vislumbre nebuloso de “pregadores nas mãos de um Deus irado”.

A leitura do cenário pós-moderno revela que a desnutrida formação teológica dos pregadores tem contribuído substancialmente para que as heresias e aberrações se tornem rotinas no seio eclesiástico. A raquítica e superficial educação bíblica ministrada nas igrejas só tendem a acentuar o problema. A falta de incentivo hermenêutico por parte da liderança corrobora e acelera as manifestações de abusos ministeriais.

Na “crista da onda” das heresias encontra-se a Teologia da Prosperidade. Pode ser entendida como um conjunto de princípios que afirmam que o cristão verdadeiro tem o direito de obter a felicidade integral, e de exigi-la através de decretos e ordenanças. Segundo os adeptos desta linha de pensamento, Jesus veio ao mundo pregar o Evangelho aos pobres justamente para que eles deixassem de ser pobres.

Tudo começou com Essek William Kenyon (Nova York, EUA, 1867), ex-pastor das igrejas batista, metodista e depois outras de linha pentecostal, que influenciado por idéias de seitas cristãs/metafísicas, desenvolveu estudos que entre outras coisas tratava de: poder da mente, a inexistência das doenças e o poder do pensamento positivo. Posteriormente, entra em cena Kenneth Hagin (Texas, EUA, 1918), discípulo fiel de Kenyon. Sofreu várias enfermidades e pobreza na juventude. Contudo, aos 16 anos diz ter recebido uma revelação quando lia Mc. 11.23,24, entendendo que tudo se pode obter de Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da resposta, mesmo que as evidências indiquem o contrário.

Outro problema é que a “Santa Igreja Evangélica” tem pregado doutrinas que assemelham (para não dizer que copiam) das: católico romanas, judaicas, espíritas e até mesmo umbanda. O pior é que os membros, conselhos ministeriais e assembléias gerais parecem fazer vista grossa frente à tamanha distorção bíblica. Em meio a este sincretismo religioso disfarçado de novas estratégias para o crescimento da Igreja percebe-se um estupro dos ensinos de Cristo Jesus. Tal realidade é uma agressão moral ao caráter de Deus.

Os cultos giram em torno de temas como: dinheiro, demônios e enfermidades. Pode-se freqüentemente observar práticas pagãs, bastante comuns no catolicismo popular e mesmo na umbanda, como distribuição de "fitinha da prosperidade", "sal grosso", “sabonete da purificação”, “espada da vitória”, “chaves do sucesso”, “rosas ungidas”, “cruz do triunfo”, lenços, rituais de descarrego com "arruda" para dar sorte, água benta, óleo ungido etc.

A igreja “picadeiro de Jesus” também não fica para traz. Os pregadores só faltam se vestirem de palhaços, pois as piadas e os showzinhos já acontecem normalmente nos púlpitos. O termômetro que ajusta a aceitação do sermão são as gargalhadas eufóricas da platéia. A cada domingo a preocupação é aprender novas piadas para não cansar as pessoas com as mesmas crônicas. O louvor também aproveita o picadeiro aberto para lançar as mais loucas músicas. Assim, o circo está armado e por algumas horas tudo se resume no bem estar dos ouvintes. E Deus? Ah! Deve estar lá na última fileira de bancos apenas olhando e tentando descobrir do que as pessoas tanto riem daquele que deveria ser Seu porta-voz.

A triste realidade de pregadores que inquestionavelmente mais se parecem com animadores de palco tem sido comum, até mesmo nas mais conservadoras denominações. A liturgia dos cultos está sendo assassinada, dando espaço para shows no mínimo esquisitos. As músicas outrora infundidas por Deus sedem espaço para plágios de sucessos do meio secular, mudando apenas a letra para não “escandalizar”. A Escola Bíblica Dominical perde ibope, pois o foco não mais é ensinar, mas sim empolgar as platéias com mega produções impressionistas.

A Igreja “fast-food” é a moda do momento. Os estudo teológicos que antes eram de quatro anos se resumem agora a meros meses. Os ensinos bíblicos sedem lugar para lições levianas da famosa super legalidade hierárquica. O pensar se condiciona à vontade do cacique da Igreja. A reação provocada por atitudes como as mencionadas anteriormente é de fácil percepção. Contudo, a miopia oriunda da falta de educação teológica tem dificultado o amadurecimento eclesiástico.

O terrível diagnóstico pós-moderno eclesiástico não cessa. Talvez, como num golpe final no que ainda restou de dignidade na igreja se contempla um estilo de pregação cada vez mais crescente: os anti-teologia e anti-missões. A falta de incentivo ministerial e financeiro para com os seminaristas retrata o perfil dominador-medroso dos lideres. A decorada justificativa de não se ter recursos para sustentar missionários no campo reflete tão somente o quanto a Igreja está longe do propósito de Deus.

A grande verdade por detrás deste pano de fundo é que Deus tem tolerado a Igreja Evangélica. Haverá um tempo onde o próprio Deus há de intervir derramando juízo sobre os Seus. Quando este dia chegar contemplaremos a apavorante e assombrosa visão de “pregadores nas mãos de um Deus irado”. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br 
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Artigo escrito em: 12 de Setembro de 2007

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