terça-feira, 2 de julho de 2013

Um Evangelho além das palavras


“Quando Jesus saiu do barco e viu tão grande multidão, teve compaixão deles (...) Respondeu Jesus: ‘Eles não precisam ir. Dêem-lhes vocês algo para comer’”. 
Mateus 14:14,16 (NVI) 

Ao foliarmos as páginas do Evangelho segundo Mateus rapidamente se percebe um Cristo que enquanto homem optou pelos pobres, marginalizados e excluídos. Estes eram, deste os tempos bíblicos até o presente século, a maioria. Estes eram a multidão! A reação de Jesus ao notar tão grande nuvem de necessitados era a de se misturar a estes, pois “...não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes (cf. Mt. 9:12 - NVI). O Evangelho do Carpinteiro sempre foi um sol para os que habitavam nas trevas; sempre foi um ribeiro para aqueles que viviam em terras áridas; sempre foi um bálsamo para os que se acostumaram com a dor das vivências; sempre foi o caminho do Reino para um mundo sem direção.

Cristo não apenas restringiu-se ao templo ou sinagogas, mas optou pelos “excluídos”. Ele escolheu a multidão de necessitados ao invés de ser bajulado pelos religiosos dos tempos bíblicos. O relato de Mateus, capítulo 14, versículo 14, afirma que Cristo “viu tão grande multidão” (v.14). Este é o primeiro passo para possamos nos amoldar ao caráter de Cristo, ou seja, não fingir ver as multidões que nos rodeiam. De fato este é um dos maiores desafios missiológicos para a igreja pós-moderna, pois não poucas vezes nos fechamos em nosso mundo gospel e ignoramos os aflitos que gemem do outro lado da rua da igreja.

Fingir não ver não é menos prejudicial que não ajudar, aliás, talvez isto seja até mais maléfico. Como cristão nossa busca deve ser de “imitarmos” a Cristo Jesus e assim fazermos coro com o cantor e compositor Jaime Murrel na canção Te Pido La Paz (álbum: Te Pido La Paz, 1999, Vida): “Ajuda-me a olhar com os Teus olhos; Ajuda-me a sentir com Teu coração; Não quero mais viver sendo insensível; Há tanta necessidade, oh Jesus Cristo...” - tradução livre. Extrapolar a bolha de comodismo inerente às quatro paredes da religiosidade é um inicio para o redescobrir ministerial, espiritual e existencial.

Outro desafio proposto por Jesus na referida perícope introdutória é a inquietante sentença: “...Dêem-lhes vocês algo para comer...” (v. 16). Sendo assim, mais do que ver a necessidade do próximo, é necessário fazer algo por estes que engrossam as fileiras das multidões. É mister entender que o Evangelho nunca foi uma poltrona para se assistir, mas sim uma enxada para trabalhar. Por esta razão ver e não estender a mão é uma atitude que denuncia a existência de uma raquítica doutrina e, pior, desnuda uma fé ineficaz que não é capaz de responder aos anseios da sociedade. 

Tiago endossa tal preocupação e afirma: “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia; e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta” (cf. Tg. 2:15-17 - NVI). Só aplaudir os belos discursos não é suficiente, é preciso ousar fazer algo, mesmo que seja pouco. Pesa sobre os ombros da Igreja a responsabilidade de estender a mão, acolher e dar de comer. E, ao contrário do que se escuta por ai, as pessoas sempre ouvirão mais o que fazemos do que o que dizemos.

As ações “ver” e “dar de comer” sinaliza um Evangelho ativo que não se limita a “...mandar embora a multidão...” (cf. Mt. 14:15), mas prefere usar a fé como acolhimento para os necessitados. Afinal, como defende Tiago: “a religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (cf. Tg. 1:27 - NVI). A proposta do Cristianismo não se resume no que cremos, mas sim no que fazemos. Por esta razão é mais nobre um simples dar de comer do que as belas orações farisaicas dominicais. É mais louvável dar de comer do que as honrosas falácias triunfalistas que engorduram os cânticos positivistas do gênero gospel. É mais desejável o dar de comer do que as homilias meramente eloquentes que nunca ultrapassam as barreiras das paredes denominacionais. 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 08 de Abril de 2012
 

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