“Quando Jesus saiu do barco e viu tão grande multidão, teve compaixão deles (...) Respondeu Jesus: ‘Eles não precisam ir. Dêem-lhes vocês algo para comer’”.
Mateus 14:14,16 (NVI)
Ao
foliarmos as páginas do Evangelho segundo Mateus rapidamente se percebe um
Cristo que enquanto homem optou pelos pobres, marginalizados e excluídos. Estes
eram, deste os tempos bíblicos até o presente século, a maioria. Estes eram a
multidão! A reação de Jesus ao notar tão grande nuvem de necessitados era a de
se misturar a estes, pois “...não são os que têm saúde que precisam de médico,
mas sim os doentes (cf. Mt. 9:12 -
NVI). O Evangelho do Carpinteiro sempre foi um sol para os que habitavam nas trevas;
sempre foi um ribeiro para aqueles que viviam em terras áridas; sempre foi um
bálsamo para os que se acostumaram com a dor das vivências; sempre foi o
caminho do Reino para um mundo sem direção.
Cristo
não apenas restringiu-se ao templo ou sinagogas, mas optou pelos “excluídos”.
Ele escolheu a multidão de necessitados ao invés de ser bajulado pelos
religiosos dos tempos bíblicos. O relato de Mateus, capítulo 14, versículo 14,
afirma que Cristo “viu tão grande multidão”
(v.14). Este é o primeiro passo para possamos nos amoldar ao caráter de Cristo,
ou seja, não fingir ver as multidões que nos rodeiam. De fato este é um dos
maiores desafios missiológicos para a igreja pós-moderna, pois não poucas vezes
nos fechamos em nosso mundo gospel e
ignoramos os aflitos que gemem do outro lado da rua da igreja.
Fingir
não ver não é menos prejudicial que não ajudar, aliás, talvez isto seja até
mais maléfico. Como cristão nossa busca deve ser de “imitarmos” a Cristo Jesus
e assim fazermos coro com o cantor e compositor Jaime Murrel na canção Te Pido La Paz (álbum: Te Pido La Paz, 1999, Vida): “Ajuda-me a olhar com os Teus olhos; Ajuda-me
a sentir com Teu coração; Não quero mais viver sendo insensível; Há tanta
necessidade, oh Jesus Cristo...” - tradução livre. Extrapolar a bolha de
comodismo inerente às quatro paredes da religiosidade é um inicio para o
redescobrir ministerial, espiritual e existencial.
Outro
desafio proposto por Jesus na referida perícope introdutória é a inquietante
sentença: “...Dêem-lhes vocês algo para
comer...” (v. 16). Sendo assim, mais do que ver a necessidade do próximo, é
necessário fazer algo por estes que engrossam as fileiras das multidões. É
mister entender que o Evangelho nunca foi uma poltrona para se assistir, mas
sim uma enxada para trabalhar. Por esta razão ver e não estender a mão é uma
atitude que denuncia a existência de uma raquítica doutrina e, pior, desnuda
uma fé ineficaz que não é capaz de responder aos anseios da sociedade.
Tiago endossa tal preocupação e afirma: “Se um irmão ou
irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia; e um de vocês
lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem porém
lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si
só, se não for acompanhada de obras, está morta” (cf. Tg. 2:15-17 - NVI). Só aplaudir os belos discursos não é
suficiente, é preciso ousar fazer algo, mesmo que seja pouco. Pesa sobre os
ombros da Igreja a responsabilidade de estender a mão, acolher e dar de comer.
E, ao contrário do que se escuta por ai, as pessoas sempre ouvirão mais o que
fazemos do que o que dizemos.
As ações “ver” e “dar de
comer” sinaliza um Evangelho ativo que não se limita a “...mandar embora a
multidão...” (cf. Mt. 14:15), mas
prefere usar a fé como acolhimento para os necessitados. Afinal, como defende
Tiago: “a religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta:
cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper
pelo mundo” (cf. Tg.
1:27 - NVI). A proposta do Cristianismo não se resume no que
cremos, mas sim no que fazemos. Por esta razão é mais nobre um simples dar de comer do que as belas orações
farisaicas dominicais. É mais louvável dar
de comer do que as honrosas falácias triunfalistas que engorduram os
cânticos positivistas do gênero gospel.
É mais desejável o dar de comer do
que as homilias meramente eloquentes que nunca ultrapassam as barreiras das
paredes denominacionais.
Fortalecido pela
cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 08 de Abril de 2012
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