"Ter escravos não é nada, mas o que se torna intolerável é ter escravos chamando-lhes cidadãos".
Denis Diderot - filósofo e escritor francês (1713-1784)
Democracia já! Os políticos corruptos que financiam a mídia
televisiva insistem num discurso de categorizar como “vandalismo” aqueles que desiludidos
com a ineficiência do pacifismo (palavra pomposa para movimentos inexpressivos)
optaram por medidas radicais e até improprias. Tristemente, a quebradeira se torna a voz daqueles que
não mais são ouvidos pela razão, se torna o grito daqueles que se cansaram de
argumentar sem sucesso e se torna a bandeira dos que vivem marginalizados
comendo das migalhas do capitalismo. Os lideres “pacifistas” insistem em não
serem identificados com estes “vândalos”, sem perceber estes estão sendo manipulados
pelos telejornais que os fizeram acreditar que se ficarem andando pelas ruas
serão ouvidos pelas autoridades brasileiras, mentira, ilusão de marionetes da pseudodemocracia.
Sejamos sinceros, a mídia só esta dando tanta atenção aos movimentos populares
atuais pelo fato de estar havendo quebradeira,
jornalismo hoje se resume em noticiar caos (e ainda de forma tendenciosa),
passeatas pacifistas nunca foram destaques no Jornal Nacional – o que os repórteres querem é ver o circo pegar fogo, isto é notícia que aumenta o IBOPE.
Os políticos querem assistir pela TV o povo quebrando tudo, pois assim vão conseguir
desviar mais verbas públicas para reformas do pós-quebradeira. Há ainda os políticos
de oposição (nome dado aos que não sabem criticar e que desejam o poder a
qualquer custo) que sempre querem ver tudo ruindo para que nas próximas
eleições se apresentem como a solução para um Brasil caótico – e o povo acreditará,
sem dúvida. Pacifismo não funciona (inexpressão), vandalismo também não
(manipulação), é necessário descobrir um novo modo de democratizar.
Democracia já! Sobre a destruição
em massa alguns aspectos precisam ser arrazoados. É lamentável perceber que
sem agressão pouco se ganha destaque
neste Brasil. Contudo, é valido (re)pensar algumas variáveis desta atitude. Quebrar
patrimônio público é favorecer o desvio de verbas governamentais (como exposto
no parágrafo anterior), além de destruir parte de nossa história artística,
cultural e arquitetônica – isto não é bom. Depredar instituições privadas é
promover terrorismo aos cidadãos que ficam a orbitar frente às manifestações,
impondo medo aos espectadores que assistem a quebradeira assentados num sofá comendo um Big Mac – isto não
favorece o ingresso de novos adeptos a causa, pois por aqui puritanismo barato
e moralismo farisaico são como capim em dias chuvosos. Há ainda algo inquietante
nesta história, se os tais “manifestantes enfurecidos” estão de fato enraivados
com o capitalismo, então, deveriam começar a quebradeira com/em seus patrimônios: depredem suas próprias casas,
queimem seus próprios carros, atei fogo em suas próprias roupas, parem de comer
em restaurantes, desliguem a televisão, parem de ver o jogo do Brasil, parem de
comprar, chega de consumir – ai sim seria um bom manifesto contra o capitalismo
– mostrem que é possível (se é que é) viver de forma democrática gastando
menos, compartilhando mais, e sociabilizando com os marginalizados. Tentar
convencer outros de algo que não se está disposto a incorporar no modo de vida
é perca de tempo, e não é nada democrático.
Democracia já! Os governadores e prefeitos das cidades que estão
sendo “alvo” das manifestações estão discursando que não vão impedir as
passeatas pacíficas, dizem isto como se tal discurso fosse democrático. Lego
engano. Democracia não é deixar o povo caminhar pelas ruas, isto é liberdade de
expressão. Democracia inclui o diálogo, deixar o povo gritando pelas vias é
monólogo, descaso e desinteresse. As manifestações coletivas são provas de que
não há democracia, pois se saem nas ruas é porque não foram ouvidos (perceba a
conjugação verbal no passado); se precisam fazer passeatas é porque não tiveram
condições de dialogar com as autoridades (in)competentes (outras vez o verbo
está no passado); se necessitam gritar é porque suas vozes foram ignoradas ou
não havia espaço para ouvi-las (novamente o verbo insistem em ficar no
passado); se carecem de unir forças para lutar contra a minoria dominante é
porque foram rechaçados a condição de escravos
do sistema sem ter condições de se defenderem (ainda sim o verbo se enamora
com o passado). Perceba então que democracia não é deixar o povo manifestar,
pelo contrário, isto denuncia nosso frágil sistema opressor rotulado de
democrático. Os políticos instem em afirmar que manifestações são normais em
países com governo democrático. Mas, isto também não é verdade. Os países que
mais tem manifestações públicas são exatamente os que não têm democracia (e.g. vários países no oriente-médio e algumas ditaduras disfarçadas na América
Latina). Enfim, o povo faz manifestações para lutar por democracia – se precisa
lutar por, quer dizer que não a tem.
Democracia já! Precisamos rever se o Brasil de fato vive num
contexto democrático. Se em solos tupiniquins realmente existisse democracia
então algumas coisas deveriam ser bem diferentes, segue algumas sugestões: As
eleições não deveriam ser obrigatórias, pois se vivo numa democracia tenho que
ter o direito de escolher votar ou não, qualquer imposição unilateral está por
definição longe do estado democrático. Outra sugestão bem democrática seria que
as eleições não fossem por voto secreto, onde o cidadão pudesse livremente
expor em quem votou sem medo de retaliações, repreensões ou represarias de
outrem. Com o voto aberto (não secreto) o político eleito teria sua candidatura
atrelada aos seus eleitores que poderiam a qualquer tempo retirar-lhe o voto,
favorecendo a perda do mandato – teríamos um site atrelado aos Tribunais
Eleitorais que exporiam numa página da internet quem e quantos votaram, o
eleitor que se arrependesse do voto ou mudasse de opinião por insatisfação
faria um ofício que protocolaria ao órgão competente retirando assim o seu voto,
então, o referido servidor público (político) poderia perder o mandato
imediatamente (sem recurso ou fórum privilegiado), isto se o número de
eleitores estiver abaixo do estipulado pelo Tribunal Eleitoral. Bom seria se política
não pudesse ser carreira, nem profissão, estes devem partir do pressuposto que
se está servindo o povo, para o povo, sendo do povo. A República seria uma
grande ONG que não pode ter sua diretoria remunerada (como é lei para qualquer
ONG – serviço de utilidade pública/social), pois caso contrário haverá conflito
de interesses e possível corrupção – algo do tipo que vemos todos os dias no cenário
político brasileiro. No dia que ser político não der dinheiro, boa parte dos lobos
vai sumir (ou pelo menos vão mudar de matilha).
Democracia já! Finalizo esta pensata democrática pinçando algumas
insanidades em meu imaginário apolítico. Imagine... se todos estes
manifestantes fosse para Brasília pedir o Impeachment
dos políticos (presidente, governadores e prefeitos) – por muito menos e com
muito menos pessoas conseguimos tirar Fernando Collor de Mello em 1992); ...se toda esta
massa humana fosse escutada e conseguíssemos estabelecer plebiscitos para que o
povo escolha, discuta e critique alterações na Constituição, na Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT), entre outras leis – se isto não é possível pela atual
legislatura brasileira, então, que se desconstrua as presentes bases legais e
restabeleça a lei a partir do povo; ...se todos este vândalos (como estão sendo chamados) fossem nas indústrias
multinacionais e fomentassem a
nacionalização, valorização do regionalismo e o trabalho justo – a bem da
verdade o Estado está rendido aos pés das empresas privadas, o grande vilão são
estes multimilionários que usam a máquina governamental para fazerem suas
empresas crescerem e enriquecerem acentuando a desigualdade social; ...se toda
esta gente aprendesse a se auto-criticar, auto-disciplinar, auto-avaliar e
auto-pensar – quem sabe assim poderíamos ter um país que não apenas julga como
corrupto o desvio de verbas governamentais, mas igualmente sentiríamos revolta
e desprezo para com nossas corrupções civis/cotidianas como atravessar uma cerca
para “pegar” (roubar) melancia numa plantação à beira de estrada, ou, como
pegar nota fiscal no “valor mais alto” (superfaturar) do que o real num posto de
combustível ou no restaurante para repassar para a empresa. Enfim, é necessário
descobrir um novo modo de democratizar. Precisamos de uma redemocratização tupiniquim, antes que nos acostumemos com
manifestações populares e nos esqueçamos da democracia.
Democracia já!
Fortalecido pela
cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 18 de Junho de 2013
Palavras de mestre.
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