segunda-feira, 1 de abril de 2013

Reflexões sobre maturidade cristã


"Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. (...) prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus”. 
Filipenses 3:12,14 (NVI)

O mundo contemporâneo se disfarça por detrás de uma cortina de certezas e convicções que inquestionavelmente não revela o que realmente se é. A cinematografia e mundo televisivo não contribuem para que tal cortina seja desfeita, muito pelo contrário, torna a busca da existência numa corrida utópica pela cenoura que está amarrada a nós mesmos centímetros à frente provocando nossa caminhada rumo ao nada. Vive-se num odisseia do vazio existencial que se maquia sob a forma de discurso triunfalista. Quanto mais se brada mais se percebe a inconsistência de ser, tenta vencer no grito suas frágeis convicções. O capitalismo fez as pessoas acreditarem que tudo pode ser comprado, como que sob as testas tivesse uma etiqueta de valores financeiros. Não é que a sociedade é ruim, nós é que o somos.

O cheiro fétido da imaturidade não está nos outros, está em nós. Vê-se uma defesa do planejamento de vida como se a existência fossem números exatos e com combinações previsíveis. Assiste-se a busca pela felicidade como que se esta fosse um produto numa gôndola qualquer no mercado da esquina que de tão acessível se torna vulgar e vazia. Percebe-se uma inquietude por querer ser alguém na vida ao ponto de se escravizar para obter a aprovação e aplausos de outros que bravejam atrás da máscara do sucesso. Contempla-se o suspiro apaixonado por uma história de amor que ilude os corações feridos a ter ações impulsivas sem levar em considerações as consequências de se confundir amor com prazer. Por tudo isto, seria farisaico se não assumíssemos nesta lauda que a sociedade está em uma luta desleal, vivendo num conflito sombrio, sonhando com a ilusão como que no “o fantástico mundo bob” e sendo encantando com o canto suave da sereia que tenta arrastar as pessoas para o fundo do mar.

O caótico cenário descrito no parágrafo anterior é intrínseco ao viver orgulho, egoísta e instável da sociedade pós-moderna. Isto é o que somos. Por esta razão é igualmente fingimento esperar que aqueles que labutam numa jornada cristã não padeçam destes mesmos assombros. Ser cristão não é construir outro mundo entre as quatro paredes da igreja e achar que se está imune a tais mazelas da nossa geração. Vivemos no mesmo contexto. Ter dúvidas, fazer questionamentos, ter incertezas, cometer vários erros, acreditar em utopias... enfim, somos humanos. Um grande passo rumo à maturidade cristã é quando reconhecemos quem somos em nossas fraquezas sem que haja a necessidade de fingimentos, máscaras ou encenações – mesmo que isto escandalize os abutres da fé que bravejam dos pedestais espirituosos engordurados de artificialidade igrejeira.

A maturidade cristã não é um troféu dos que não mais cometem erros, maturidade cristã é o galardão daqueles que conseguem mais facilmente perceber seus próprios erros. Não é a ausência de fraquezas que importa, mas sim a pronta percepção destas fraquezas em nossos corações. Por isto, viver em santidade não é deixar de coexistir em conflito com os desejos carnais que parece perseguirmos por toda a vida (cf. Gl. 5:17); Ser discípulo de Jesus não é viver longe dos desejos egocêntricos que insistem em massagear nossos corações a cada manhã (cf. Mc 10:37); Congregar em uma igreja não é sinônimo de se tornar um vencer invicto que não mais desfruta dos altos e baixos da vida (cf. Fp 4:12). Enfim, caminhar no Caminho (nomenclatura que designava os primeiros cristãos, cf. At. 9:2 e At. 24:14) não é passar a largo do caos do presente mundo, mas sim conseguir permanecer firmes mesmo sabendo quem realmente nós somos.

O grande trunfo da maturidade cristã é quando se entende, sem reservas, que a obra de Deus é feita não por causa de nós, mas sim apesar de nós. O grande presente de Deus a humanidade foi entregar o Seu Filho na cruz, evidenciando nossa incapacidade de saciar a ira de Deus por nós mesmos, por causa do que nós somos (cf. Rm 3:23-24). Aqui se faz necessário uma consideração com fins a não desvirtuarem o real propósito deste artigo – não estamos defendo o pecado com o qual temos que lutar cotidianamente, estamos discursando aqui sobre a natureza pecaminosa, indivisível a nossa existência – é preciso diferenciar tais conceitos. Finalizando, espero que as palavras aqui descritas sirvam para destronizar a tirania da perfeição em nossas igrejas brasileiras e fomentar uma perspectiva de irmandade. Que vislumbramos a operosidade da graça do Senhor do Caminho. 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


Artigo escrito em: 14 de Julho de 2012

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