"Não
que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para
alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. (...) prossigo
para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo
Jesus”.
Filipenses 3:12,14 (NVI)
O
mundo contemporâneo se disfarça por detrás de uma cortina de certezas e
convicções que inquestionavelmente não revela o que realmente se é. A
cinematografia e mundo televisivo não contribuem para que tal cortina seja
desfeita, muito pelo contrário, torna a busca da existência numa corrida
utópica pela cenoura que está amarrada a nós mesmos centímetros à frente
provocando nossa caminhada rumo ao nada. Vive-se num odisseia do vazio
existencial que se maquia sob a forma de discurso triunfalista. Quanto mais se
brada mais se percebe a inconsistência de ser, tenta vencer no grito suas frágeis
convicções. O capitalismo fez as pessoas acreditarem que tudo pode ser
comprado, como que sob as testas tivesse uma etiqueta de valores financeiros. Não
é que a sociedade é ruim, nós é que o somos.
O
cheiro fétido da imaturidade não está nos outros, está em nós. Vê-se uma defesa
do planejamento de vida como se a existência fossem números exatos e com
combinações previsíveis. Assiste-se a busca pela felicidade como que se esta
fosse um produto numa gôndola qualquer no mercado da esquina que de tão
acessível se torna vulgar e vazia. Percebe-se uma inquietude por querer ser
alguém na vida ao ponto de se escravizar para obter a aprovação e aplausos de
outros que bravejam atrás da máscara do sucesso. Contempla-se o suspiro apaixonado
por uma história de amor que ilude os corações feridos a ter ações impulsivas
sem levar em considerações as consequências de se confundir amor com prazer.
Por tudo isto, seria farisaico se não assumíssemos nesta lauda que a sociedade
está em uma luta desleal, vivendo num conflito sombrio, sonhando com a ilusão
como que no “o fantástico mundo bob” e sendo encantando com o canto suave da
sereia que tenta arrastar as pessoas para o fundo do mar.
O
caótico cenário descrito no parágrafo anterior é intrínseco ao viver orgulho,
egoísta e instável da sociedade pós-moderna. Isto é o que somos. Por esta razão
é igualmente fingimento esperar que aqueles que labutam numa jornada cristã não
padeçam destes mesmos assombros. Ser cristão não é construir outro mundo entre
as quatro paredes da igreja e achar que se está imune a tais mazelas da nossa
geração. Vivemos no mesmo contexto. Ter dúvidas, fazer questionamentos, ter
incertezas, cometer vários erros, acreditar em utopias... enfim, somos humanos.
Um grande passo rumo à maturidade cristã é quando reconhecemos quem somos em
nossas fraquezas sem que haja a necessidade de fingimentos, máscaras ou
encenações – mesmo que isto escandalize os abutres da fé que bravejam dos
pedestais espirituosos engordurados
de artificialidade igrejeira.
A
maturidade cristã não é um troféu dos que não mais cometem erros, maturidade
cristã é o galardão daqueles que conseguem mais facilmente perceber seus
próprios erros. Não é a ausência de fraquezas que importa, mas sim a pronta
percepção destas fraquezas em nossos corações. Por isto, viver em santidade não
é deixar de coexistir em conflito com os desejos carnais que parece
perseguirmos por toda a vida (cf. Gl.
5:17); Ser discípulo de Jesus não é viver longe dos desejos egocêntricos que insistem
em massagear nossos corações a cada manhã (cf.
Mc 10:37); Congregar em uma igreja não é sinônimo de se tornar um vencer
invicto que não mais desfruta dos altos e baixos da vida (cf. Fp 4:12). Enfim, caminhar no Caminho (nomenclatura que
designava os primeiros cristãos, cf.
At. 9:2 e At. 24:14) não é passar a largo do caos do presente mundo, mas sim
conseguir permanecer firmes mesmo sabendo quem realmente nós somos.
O
grande trunfo da maturidade cristã é quando se entende, sem reservas, que a
obra de Deus é feita não por causa de nós, mas sim apesar de nós. O grande
presente de Deus a humanidade foi entregar o Seu Filho na cruz, evidenciando
nossa incapacidade de saciar a ira de Deus por nós mesmos, por causa do que nós
somos (cf. Rm 3:23-24). Aqui se faz
necessário uma consideração com fins a não desvirtuarem o real propósito deste
artigo – não estamos defendo o pecado com o qual temos que lutar
cotidianamente, estamos discursando aqui sobre a natureza pecaminosa,
indivisível a nossa existência – é preciso diferenciar tais conceitos.
Finalizando, espero que as palavras aqui descritas sirvam para destronizar a tirania da perfeição em nossas igrejas
brasileiras e fomentar uma perspectiva de irmandade. Que vislumbramos a
operosidade da graça do Senhor do Caminho.
Fortalecido pela
cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 14 de Julho de 2012
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