terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A corretora de seguro celestial


"Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. 
Pois o que o homem semear, isso também colherá”.
Gálatas 6:7 (NVI) 

Ao sintonizar a rádio em um programa cristão qualquer, ou ao assistir a um canal evangélico na televisão, ou simplesmente participar de um culto dominical tem se tornado um grande desafio para qualquer pessoa com um mínimo de postura bíblica. As aberrações teológicas são incontáveis e a cada dia ficam mais bizarras. Os erros hermenêuticos atingem a escala máxima de tolerância. As infantilidades imperam na tribuna eclesial. Ao que parece, infelizmente, a igreja do século XXI esqueceu o que é ser igreja. E como demonstração pública destas euforias evangelicais se percebe que fora construído um conceito distorcido do que é dízimo.

Ao ministrar uma aula em um determinado seminário um aluno fez o seguinte questionamento: “professor, tenho uma dúvida, ou melhor, estou em crise. Sempre aprendi que pelo fato de ser dizimista Deus tinha que me proteger e a minha vida tinha que prosperar. Estou plantando (dizimando), porém não estou colhendo, por quê? Nunca deixei de dar o dízimo!”. Confesso que fiquei por alguns instantes tentando entender a lógica evangelical do pensamento deste aluno. Estas deformações cristãs são resultados claros de um cristianismo empobrecido pelo lucro do serigreja”. De uma forma assustadora os cristãos estão sendo afeados no que tange a leitura de Deus, de cristianismo, de igreja e de dízimo (tendo por base o caso citado, entre outros semelhantes).

O dízimo se tornou uma parcela mensal a ser pago na “corretora de seguro celestial”, cujo proprietário seria o próprio Deus, tendo como representante na terra as igrejas. Nesta linha de pensamento, que muitas igrejas insistem em defender, Deus “assina” um contrato assumindo a responsabilidade de enviar dinheiro, saúde, prosperidade e tudo mais de bom que possa existir, desde que você (sim, você!) seja fiel no pagamento das parcelas (leia-se dízimo). Fica patente que aqui o dízimo se torna uma troca com Deus, o que não deveria ser. Mas, aproveitando o momento vamos imaginar se a moda pega, sendo assim a igreja evangélica vai promover a falência de inúmeras corretoras de seguro, pois se o dízimo protege tudo, então para que fazer seguros, isto seria desconfiança no acordo feito com Deus.

Há alguns que ousam arriscar palpites aparentemente irônico, porém não menos passivo de possibilidade, onde sugerem a criação do dízimo “pula-pula”, onde você paga num mês e recebe o valor em bênçãos no mês seguinte, você paga num mês e recebe no outro, é a evolução dizimal! Isto até parece algo distante da realidade eclesiástica atual, mas talvez não tão distante quanto se imagina, pois em algumas igrejas já estão presenteando publicamente os dizimistas fieis, então, ao que parece a roupagem é diferente, mas a idéia é a do dízimo “pula-pula”. Nesta concorrência para ver quem fideliza o cristão vale tudo, até quem sabe baixar o dízimo para 8 %, tendo assim um diferencial frente à concorrência (leia-se outras igrejas). Afinal, as massas estão a procura de uma igreja que tenha muito a oferecer e que exija pouco dos seus membros.

A terrível realidade pós-moderna assusta e indubitavelmente amedronta a fé simples apresentada pelo Carpinteiro Jesus. Numa perspectiva não tão irônica percebe-se que a igreja evangélica está se tornando gradativamente num clube, apenas para análise façamos um paralelo entre a igreja atual e um clube recreativo, veja as semelhanças: em ambos há mensalidades (dízimos), lazer, festas, associados (membros), campos de futebol, piscinas, reuniões, música, danças e etc. Tudo para dar mais comodidade e conforto para os dizimistas fieis (associados). Entretanto, o dízimo não deveria ser gasto visando o bem estar dos dizimistas, aliás até nisto há semelhança, pois um clube reverte o dinheiro dos associados nos próprios associados e paralelamente os dizimistas também estão exigindo ser beneficiados com os dízimos. Os dízimos deveriam ser uma fonte de recursos para realização dos propósitos de Deus e expansão do Reino.

O dízimo deveria ser uma manifestação de gratidão a Deus e de notório cooperativismo eclesiástico com fins a cumprir os objetivos cristãos estabelecido pelo próprio Deus. O presente texto não é uma apologia anti-dízimo, para tanto se faz necessário ratificar que o problema não está no dízimo, a questão é no porque as pessoas estão dando o dízimo. Nesta guerra não há vencedores, portanto, tentando reorganizar alguns valores quero parafrasear o discurso de posse do ex-presidente dos EUA, J. F. Kennedy: “não pergunte para Deus o que Ele pode te oferecer, mas pergunte o que você pode oferecer para Deus”. Por fim, em defesa da fé, vale bradar: dízimo não é uma negociação com Deus! 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


Artigo escrito em: 03 de Junho de 2008

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