quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Delírios perfeitamente imperfeitos do vazio



“Percebi ainda outra coisa debaixo do sol: Os velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre triunfam na guerra; os sábios nem sempre têm comida; os prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre têm prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos”.
Eclesiastes 9:11 (NVI) 

A vida tem sido marcada por paradoxos infindáveis. Parece que quanto mais próximo das pessoas se está mais longe vivemos um dos outros. Às vezes a solidão parece ser a pessoa mais próxima. O conflito psicológico surge como um conselheiro surdo. As falas se confundem com o silêncio do vento das madrugas escuras e frias. A capacidade humana de humilhar o próximo, expondo inverdades, tornasse a maior arma de defesa para quem está atacando. O dom de amar se estreita no caminho do dom de odiar. A verdade brinca de se esconder para não ser encontrada pelos corações frágeis de um simples mortal.

O fechar dos olhos para enxergar o mais profundo do coração se desdobra em enigmáticos favos de mel. Por conseguinte, em meio a tantas ferroadas pode se encontra o mais puro doce que a humanidade já se deu a conhecer. Todavia, alguns preferem as abelhas, outros o mel. O sonho não acabou, apenas tomou forma. A esperança não enfraqueceu, simplesmente amadureceu. A força não esmoreceu, só tomou impulso para pular mais alto. O paradoxo do vazio realmente enche as vidas cansadas. 

O grande problema da sociedade é fingir não ter problemas. A maior atitude de ousadia é não ter coragem de ousar. O pior sonho é aquele que não dá esperança de sonhar. A vida só tem sentido quando se está vivo. Os caminhos são marcados pelas poeiras do tempo. O presente pode se tornar passado de um futuro periódico. Os sorrisos se perpetuam nas vagas galerias da imaginação. As lágrimas reescrevem uma história que se recusa a dizer “fim”. 

Os gestos incompletos abraçam a amplitude do vazio. As palavras sem sentido começam a ter sentido. A incerteza brinca de gangorra com a certeza, quem sabe um dia destes ambas aprendam a se equilibrar. O coração protesta os últimos suspiros que ainda ventila as brasas do amanhecer. Os gritos de socorro ecoam dos mudos que desistiram de desistir. A música não será esquecida enquanto se puder ouvir: “I have a dream” – Eu tenho um sonho. A linha de chegada é exatamente no mesmo lugar da linha de saída.

No ardor da festa manifesta-se o luto da alegria. Nem tudo está perdido até que seja achado. Coisa nenhuma está no arremate quando se fica cansado de ficar cansado. Nas mais absolutas imperfeições da perfeição se concretiza a pseudo-razão. O querer se torna poder quando não há possibilidade de poder querer. O que há de novo no velho quase sempre é a repetição do filme que se assiste diariamente.

As lanternas do conhecimento clareiam a escuridão da ignorância. O simplesmente ser simples é substituído pelo ser orgulhosamente arrogante. Os limites são rompidos pela busca utópica do lugar nenhum. A fuga das perfeições hodiernas das imperfeições do maravilhoso escândalo humano é um verdadeiro espetáculo. Os bancos das praças estão vazios, não por falta de pessoas, mas sim por falta de tempo dos racionais. 

A mais hilária das crises é promover no âmago dos conflitos a dúvida da crise. Não há porque entender o que não se quer ouvir com o coração. Excêntrico pensar é diagnosticar aquilo que para todos é apenas uma mera perca de tempo. Às marcas de um vazio que preenche. Às sombras de uma luz brilhante. Às margens do deserto. Na mais absoluta solidão, por estar em meio à multidão, pode-se vislumbrar o invisível. Entretanto, tudo parece tão cheio de vazio! 

O mundo dá muitas voltas. Quem perdeu pode ganhar. Quem chorou pode sorrir. Quem estava dormindo pode acordar. O tudo está contido no nada. Portanto, as imperfeições da vida enamoram-se com o perfeito para que enquanto houver vida, vivamos.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


Artigo escrito em: 25 de Setembro de 2004

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