sábado, 8 de dezembro de 2012

Sim! Papai Noel existe!


“Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto. Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável ao Senhor? O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? (...) Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar; se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos, então...”.
Isaías 58:4-10 (NVI)

Nas vésperas do Natal pode se contemplar uma verdadeira odisséia de caridade. Não é muito difícil assistir na televisão campanhas do gênero: “Natal sem fome”, “Natal: criança feliz!”, entre outras campanhas em prol do bem. A realidade natalina definitivamente desestabiliza momentaneamente a comodidade de alguns abastados. Por exemplo, os apresentadores de programas das mais diversas emissoras vestem a roupa de Papai Noel e saem pelas ruas para presentear crianças carentes. Os depoimentos sempre são chocantes: crianças sem amor, sem referenciais, sem esperança, sem vida, sem querer, sem comida, sem bens materiais, sem tantas coisas que a lista se tornaria interminável. Pessoas estas que vêem no Papai Noel a única esperança de, talvez, dias melhores, ou pelo menos a certeza de que há um dia melhor.

O Natal é sempre uma questão polêmica. A mercantilização impregnada na festividade dificulta o diálogo com a religião e, então, confunde a percepção, a sensatez e a realidade. Contudo, acreditar em Papai Noel é algo que sem dúvida alguma desafia a inteligência humana. Todavia... talvez não! Dependendo da cosmovisão do indivíduo o inaceitável é dizer que Papai Noel não exista. Veja o quanto as cartas escritas ao Papai Noel pelas crianças desprovidas de recursos são bem diferentes daquelas escritas por crianças que são herdeiras do capitalismo. Para quem nada tem os pedidos para o Papai Noel quase sempre se limitam a: “uma boneca qualquer”, “um prato de comida”, “uma casa para morar”, “uma escola para estudar”, “uma cama para dormir”, “uma roupa limpa” e outras coisas do gênero que, para a maioria das crianças normais, nunca foi preciso pedir, pois nunca careceram de tais necessidades.

O Papai Noel não existe?! O Natal para a maioria das famílias normais brasileiras se resume basicamente em: presentes, muita comida e por fim, ironicamente, desentendimento entre parentes. Todavia, a verdade é que isto é uma rotina diária para este grupo de pessoas. Para estes o Papai Noel definitivamente não existe! O que se contempla neste Natal é o mesmo que em qualquer outra festividade familiar, apenas maquiada com cores vermelho e branco. Mas, existe outro grupo que dá uma nova roupagem a pergunta: O Papai Noel não existe?! Estes são os desafortunados, e é no Natal a única vez que estes vão comer uma comida decente. A única vez que vão vestir uma roupa limpa. A única vez que inúmeros meninos vão brincar com um carrinho que tenham rodas. A única vez que milhares de meninas vão brincar com bonecas que tenham cabelos e braços. Portanto, como dizer para estas crianças que Papai Noel não existe, se é somente no Natal que elas são tratadas como seres humanos.

O que se está questionando neste artigo não é a origem das festas natalinas. O propósito deste texto não tem nada haver com descobrir as influências malignas ou mensagens subliminares (se é que há!) no Natal. A finalidade deste texto é indagar sobre a assombrosa realidade de que para muitos que estão nas ruas o encontro com o velhinho de vermelho é o único momento que faz valer a pena o viver, é o único momento em que suas dignidades são valorizadas, é a única vez em que estão num nível superior aos dos porcos (referência ao documentário “Ilha das Flores” do cineasta Jorge Furtado, 1989). A filosofia do bom velhinho contrapõe com a filosofia capitalista que apregoa individualismo, silêncio e individualidade – práticas corriqueiras nos outros 364 dias do ano, inclusive nos seios religiosos.  A realidade poderia ser diferente se as instituições religiosas tivessem um programa de assistência social permanente, constante e intencional, contradizendo as ações paliativas por ocasião do Natal. Tristemente para muitas igrejas os pobres são apenas marketing para se conseguir mais verbas governamentais ou sensacionalismo igrejeiro para arrancar mais dinheiro dos fieis.

O Natal é mais profundo que uma mera festividade anual, em verdade extrapola a mediocridade da simples confraternização. Enquanto se brinca de ser Igreja várias pessoas que vivem em estado de vulnerabilidade social preferem acreditar que Papai Noel existe, pois pelo menos uma vez no ano ele sempre vem, ao contrário de muitas igrejas que demoram anos para realizarem algo significativo a favor dos famintos e necessitados. A terrível notícia é que para muitos o Papai Noel existe! O pior é que gradativamente o bom velhinho tem roubado o papel principal que deveria ser de Jesus, pois os seguidores de Cristo parecem estar escondidos em seus mundinhos egocêntricos e espirituais, incapazes de fazer o bem como estilo de vida e como postulado do ser cristão. 

Enfim, temos que concordar, a partir das ausências cristãs, com o compositor Otavio Filho na canção “O Velhinho”, quando afirma: “botei meu sapatinho na janela do quintal, Papai Noel deixou meu presente de Natal... como é que Papai Noel não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem...”. A pergunta que realmente importa é: o velhinho sempre vem, mas... quando a Igreja vem? 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 15 de Dezembro de 2007

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