“Para
tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de
nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se
plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de
construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar,
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se
conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de
lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de
falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz”.
Eclesiastes 3:1-8 (NVI)
Este artigo é mais um daqueles que se configuram na
categoria desabafo pessoal, não tem
cunho doutrinário, nem tem a pretensão de ensinar
algo, apenas refletir sobre minhas dores, conquistas, frustrações e realizações.
Quem sabe tais postulados possam ser congruentes e afins com os que hão de ler
as linhas que se seguem e desta maneira produzir algo de bom, pois como diria um antigo professor da minha época de
colegial: “existem três tipos de pessoas: as tolas que erram e nunca aprendem,
as inteligentes que erram e aprendem, e as sábias que vêem o erro dos outros e
aprendem”. Portanto, use este texto para te ajudar a ser um pouco mais sábio(a).
Optarei em utilizar a linguagem na primeira pessoa do singular e terei como pano
de fundo as vésperas de meu aniversário de 31 anos de idade. Apesar da pouca idade
gostaria de puxar uma cadeira e
convidar minha alma a repensar sobre os tempos, convidar meu coração para se assentar
e escutar as palavras que nunca foram pronunciadas, convidar meu intelecto a se
curvar sobre as lágrimas que ensinam mais que as exaustivas aulas expositivas,
e, convidar as minhas vivências para um piquenique
onde vamos chorar de tanto rir de meus pessimíssimos e rir de tanto chorar de
meus otimismos.
Há momentos que paramos e pensamos no que faríamos
diferente, pois bem, vamos começar por ai. Com certeza faria muita coisa
diferente! Não zombaria de tantas pessoas que me ombrearam na jornada e que por
prepotência julguei a mim mesmo melhor que estes só por puro orgulho. Não me
apegaria tanto nas coisas que me
vieram às mãos, pois estas coisas sem
as pessoas são apenas objetos inúteis e que produzem um saudosismo maquiavélico
e sombrio. Não lutaria por tantas causas que invariavelmente me afastaram de
quem eu sou e me distanciaram dos propósitos de Deus que acredito produzem vida.
Não perderiam tanto tempo querendo mostrar para as pessoas o que elas querem
que eu seja, pois tal pretensão gera um sentimento de falsidade no mais
profundo do meu ser e que de tanto fingir chega o dia em que não mais se sabe
quem se é de verdade. Não mataria tantos sonhos em corações inocentes sob a
ambição de que cabia a eu aproxima-los da dura realidade da existência, tal
alínea só fez o meu mundo ser mais escuro, pois as utopias são tipo luzes que
nos faz acreditar em algo maior do que nós mesmos somos. Não correria tanto,
pois velocidade sem direção é a certeza de se chegar a lugar nenhum.
Na contra mão do paragrafo anterior há também aqueles
momentos que paramos e pensamos no que fizemos certo, no que fizemos de bom,
vamos por esta via agora. Cautelosamente afirmo que fiz pouco isto! Escolhi
viver em prol do próximo, da fraternidade, da Igreja, isto foi a melhor escolha
em minha vida, mesmo reconhecendo que ainda estou muito longe do padrão
esperado por Deus, por mim e pela igreja que sirvo como pastor. Optei por
passar adiante o pouco que sei, e nestas três décadas de existência pude
perceber as grandes árvores que esta sementinha se tornou em outros, obviamente
que poderia ter feito mais, porém foi o melhor possível. Constitui família,
dedicando tempo no esforço de fazer estes felizes, aprendendo o altruísmo do
amar e a arte de perder para que o outro ganhe, porém reconheço que já fui
melhor nisto. Fiz um filho, Gabriel, aqui
com apenas oito meses de vida, ele me fez entender
e me conduziu a praticar os conceitos
mais elementares da vida cristã, como amar, doar, sorrir, abraçar, olhar,
sentir... elementos estes que reconheço estavam tão distantes do meu coração
por causa do que sou (ou, estou sendo).
Enfim, estou vivo, isto é bom, pois sobreviver neste mundo já é uma conquista.
Há aqueles momentos que indagamos acerca do que
gostaríamos de ter feito, mas que obviamente não fora feito. Vamos por nossos
pés neste solo escorregadio agora. Poxa! Queria ter feito muita coisa! Queria
ter lido mais poesias, desta maneira teria aprendido a sentir mais e falar
menos. Queria ter olhado mais as estrelas, elas sempre me fizerem vislumbrar a
grandeza de Deus e a minha pequenez. Queria ter escutado mais meu coração ao
invés de tentar me mutilar a fim de adequar-me as expectativas da sociedade,
tristemente ambos perderam. Queria ter sido amigo de mais gente, isto me faria
ter mais amigos hoje. Queria ter chorado mais, lamentado meus dissabores, aproveitado meus fracassos, porém aprendi
a levantar rápido demais e assim mui em breve me esqueço do porque tropecei, o que provavelmente me fará trupicar outras vezes. Queria ter
sorrido mais das coisas bobas da
vida, mas me tornei sério demais para vivê-las. Queria ter arriscado mais,
mesmo que isto me fizesse perder mais, a estabilidade/previsibilidade é um
câncer que me consumiu a coragem, me tornei apenas um ser medíocre.
Verdade seja dita, entre o que eu gostaria que fosse e o que é há um hiato intransponível por causa do fator tempo. De fato
não posso mudar o passado, ele está eternizado. Só me resta domar o incontível
presente e ser assombrado pelo desbravável futuro. Tudo isto digo não como um
lamento pessimista, depressivo e frustrante. Não! Definitivamente não! Contudo,
preciso ser honesto comigo mesmo e admitir tais fatos descritos nos parágrafos
anteriores como forma de reavaliar a mim mesmo. Por isto, diferentemente do que
possa parecer não estou desfalecendo, nem desistindo, e muito menos chutando o balde. Com este discurso
(leia-se artigo) estou a adorar o “Senhor do tempo” que de forma inexplicável
me brinda com mais um ano de vida. A este Deus atemporal que existe ante da
eternidade, e que conduz todas as coisas para o fim que apraz a Si próprio,
quero bradar minha rendição, humilhação e fraqueza. Tributando a Ele que eu não
sou, mas reconhecendo que Ele é o Grande Eu Sou. Desnudando minha alma e a
colocando temporalmente num pelourinho de vergonha para que em nada me glorie,
mas me conforte nas sombras da Cruz do Calvário.
Ele é o “Senhor do tempo” e entre Seus designíos há tempo
para tudo: “tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de
arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e
tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo
de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e
tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e
tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e
tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver
em paz” – cf. Eclesiastes 3:1-8. Não
gostaria de viver no tempo de morrer,
arrancar o que se plantou, prantear, espalhar as pedras, desistir, lançar fora,
rasgar, entre outros tempos do gênero, mas não tenho escolha, assim como
você caro leitor. Nas páginas da vida não se escreve apenas com os tempos de plantar, rir, dançar, abraçar, costurar,
amar, entre outros tempos de bonança. Por isto não me sinto errado pelas minhas desventuras, só me
sinto vivo. A boa notícia é saber que se nesta vida nada é eterno, são apenas
tempos, então, as coisas podem inesperadamente e simplesmente mudar. Minha
oração tem sido que Deus me guie para aproveitar ao máximo os tempos bons e que
Ele, nos tempos difíceis, me dê força para não desfalecer.
É impossível entender os tempos! O Deus Eterno rege a
vida de pessoas temporais, desta maneira, eu um mero ser mortal nunca compreenderei
os designíos dAquele que não sofre o peso do tempo. Mas... não preciso entender
muita coisa, pois afinal sou apenas um servo (i.e. escravo) dEle. Ele é o meu Senhor, confio a Ele os meus passos
aplaudíveis e os vacilantes. Ele é minha canção, ofereço a Ele meus louvores de
gratidão e de frustração. Ele é meu escudo, descanso debaixo de Seus braços
fortes depositando a Ele minha fé e minhas descrenças. Ele é meu porto seguro, atraco
nEle o que eu sou e o que não consigo ser. Ele é meu amigo, falo com Ele sobre
minhas grandes aspirações e meus grandes
pecados. Ele é meu Deus, reconheço que Ele sabe o que está fazendo mesmo
quando seus feitos não se encaixam nos meus moldes confortáveis. Ele é o meu
Pastor, sei então que nada me faltará quer eu esteja nos pastos verdejantes ou
no vale da sombra da morte. É... finalmente reconheço que nunca conseguirei
entender muita coisa, e acredito que isto seja pelo fato de eu não ter sido criado
para ser senhor do tempo, só faço
parte de um tempo.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br